Pros e contras da terapia eletroconvulsiva (ECT) em debate

Pros e contras da terapia eletroconvulsiva (ECT) em debate

Estudos indicam que os benefícios da terapia eletroconvulsiva (ECT) são frequentemente superestimados, enquanto os riscos são minimizados, conforme revela uma pesquisa publicada no Journal of Medical Ethics.

Os pesquisadores observaram que os pacientes tinham quase quatro vezes mais chances de lembrar que os problemas de memória resultantes eram temporários, em vez de permanentes. Além disso, eles eram seis vezes mais propensos a lembrar que a ECT poderia ser salva-vidas, em comparação com a informação sobre possíveis problemas cardíacos.

A ECT envolve a indução de uma breve convulsão controlada no cérebro, utilizando correntes elétricas, geralmente administrada em seis a doze sessões sob anestesia geral, ao longo de várias semanas. Desde a sua introdução em 1938, a ECT permanece como um procedimento controverso, sem um consenso claro sobre seus prós e contras, ou sobre as condições de saúde mental para as quais é mais eficaz.

Um relatório de 2023 da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das Nações Unidas ressalta que todos os pacientes que considerem a ECT devem ser informados sobre os riscos potenciais, incluindo perda de memória e danos cerebrais.

Entretanto, auditorias recentes sobre folhetos informativos sobre ECT na Austrália e no Reino Unido sugerem que a eficácia do tratamento é frequentemente exagerada, enquanto os riscos são minimizados.

A pesquisa buscou entender o que os pacientes e seus familiares recordam sobre as informações recebidas antes do tratamento, utilizando respostas de uma amostra de conveniência de 858 pacientes e 286 familiares de 44 países, coletadas entre janeiro e setembro de 2024.

A maioria dos entrevistados era branca e do sexo feminino, com uma idade média de 41 anos no momento da última ECT, embora a faixa etária variava entre 12 e 87 anos. A maioria (73%) dos pacientes recebeu a última ECT entre 2010 e 2024, enquanto cerca de 2% relataram tratamentos anteriores entre 1950 e 1969.

As razões para o tratamento incluíram depressão (73%), psicose/esquizofrenia (17%), transtorno bipolar/mania (15%), catatonia (8%), entre outros.

A pesquisa também questionou os participantes sobre a lembrança de terem sido informados sobre efeitos colaterais potenciais, como problemas cardíacos e riscos cognitivos associados à anestesia geral repetida. Além disso, indagou sobre a lembrança de seus direitos legais em relação à ECT, incluindo a falta de evidências sobre benefícios a longo prazo.

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Dos 735 pacientes que responderam sobre a adequação das informações recebidas, mais da metade (59%) considerou que a informação não foi suficiente.

Por exemplo, cerca de 63% recordaram ter sido informados que a ECT poderia causar problemas de memória temporários, enquanto apenas 17% lembraram que poderia causar problemas de memória a longo prazo ou permanentes.

Quando perguntados sobre informações incorretas, muitos pacientes e familiares lembraram de afirmações como “a depressão é causada por um desequilíbrio químico no cérebro” (58% e 53%, respectivamente) e que “a ECT corrige esse desequilíbrio” (42% e 41%, respectivamente).

Com base nas respostas, os pesquisadores constataram que os pacientes eram quase quatro vezes mais propensos a lembrar da informação sobre problemas de memória temporários do que sobre os problemas de memória a longo prazo. Além disso, eram mais de cinco vezes mais propensos a recordar que a ECT é o tratamento mais eficaz para a depressão severa do que dizer que não há evidências de benefícios a longo prazo.

Os autores da pesquisa reconhecem que a amostra pode não ser representativa de todos os pacientes que receberam ECT e que aqueles insatisfeitos com suas experiências podem ter maior probabilidade de participar. Eles ainda destacam que as respostas se baseiam em recordações pessoais, com algumas datando dos anos 1950, e que eventos ocorridos logo antes da ECT são particularmente vulneráveis à perda de memória.

Apesar dessas limitações, os resultados estão alinhados com estudos anteriores, sinalizando a minimização dos riscos a longo prazo como um problema significativo. Os autores concluem que é urgente que pacientes e familiares recebam informações completas e equilibradas ao decidirem sobre a ECT.

Recomendam que, se as tentativas de garantir que hospitais e clínicas cumpram o princípio ético do consentimento informado falharem, órgãos profissionais, reguladores e governamentais devem intervir.

Fonte: bmjgroup.com – Pros e contras da terapia eletroconvulsiva (ECT) em debate

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