Se você já leu a distopia “Admirável Mundo Novo”, também deve sentir um frio na barriga quando lê o termo “útero artificial”.
Mas calma, querido leitor, não estamos falando de uma máquina que substitui completamente o útero materno durante toda a gestação. Nós estamos falando de novas tecnologias que vem sendo desenvolvidas ao redor do mundo para dar suporte durante as etapas finais do desenvolvimento fetal no caso de partos de pré-maturos extremos (ou seja, antes de 28 semanas de gestação).
- Esses pré-maturos estão em grande risco de complicações neonatais, além do que, muitas vezes não finalizaram o desenvolvimento de alguns órgãos, como pulmões e até sistema nervoso central, dependendo de um cuidado intensivo que, mesmo assim, muitas vezes não é o suficiente para mantê-los vivos.
Como foi dito neste artigo da Nature, essas novas tecnologias apareceram como uma alternativa para aumentar a viabilidade desses fetos, proporcionando um ambiente mais fisiológico (parecido com o útero materno) e seguro possível para que finalizem o seu desenvolvimento e, com isso, reduzindo as complicações e aumentando a sobrevivência.
Um desses modelos de “útero artificial” funciona da seguinte forma:
- O corpo do feto prematuro é colocado em um saco contendo uma solução semelhante ao líquido amniótico, e são colocados pequenos acessos aos vasos de seu cordão umbilical, que são ligados a um aparelho que realiza a oxigenação e eliminação de CO2 extracorporeamente (como uma ECMO)

O aparelho foi testado em modelos animais- no caso, fetos de ovelhas- de forma que estudos publicados em 2017 demonstraram a capacidade de manter o feto viável até o final da gestação normal para esses animais, possibilitando o desenvolvimento total de seus órgãos!
Mas e aí, por que a Nature (e nós) estamos falando sobre isso agora?
- Pois atualmente se iniciaram as discussões nos EUA sobre a possibilidade da aprovação dessa tecnologia para teste em fetos humanos. É uma discussão complexa, com várias questões tanto científicas quanto bioéticas em jogo.
Dentre os críticos, há aqueles que afirmem que antes dessa aprovação, estudos em seres com tamanho (como fetos de porcos) e outras características (como chimpanzés) mais próximas às dos humanos deveriam ser feitos, ou que os dados existentes para apoiar os testes em humanos ainda não são capazes de mostrar que essa tecnologia poderia ser superior a o que dispomos nas UTIs neonatais para cuidado desses prematuros extremos.
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