Em dependentes da faixa etária de 18 a 35 anos, pesquisadores observaram aumento de dopamina nas mesmas regiões cerebrais ligadas à psicose; saiba mais
A dependência à cannabis está ligada a alterações cerebrais associadas à psicose, um transtorno mental que causa alucinações, delírios e agitação. É o que mostra uma pesquisa publicada no último dia 9 de abril no periódico JAMA Psychiatry.
A pesquisa conduzida no Canadá, país onde a droga foi legalizada em 2018, observou nos cérebros de dependentes de maconha um aumento de dopamina na mesma região cerebral ligada à psicose. O estudo foi conduzido por cientistas do Instituto de Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde de Londres (LHSCRI), em Ontário, e da Escola de Medicina e Odontologia Schulich da Universidade de Ontário Ocidental.
“Agora temos evidências que mostram uma linha reta ligando a cannabis à dopamina e à psicose, algo nunca demonstrado antes, e é crucial que médicos, pacientes e familiares trabalhem juntos para quebrar essa linha”, diz o autor sênior do estudo, Lena Palaniyappan, em comunicado.
A domina é um neurotransmissor responsável pela sensação de prazer, humor, motivação e controle motor. “Níveis excessivos de dopamina podem interromper os processos cerebrais normais e aumentar o risco de psicose, especialmente em indivíduos que já são vulneráveis”, explica a coautora do estudo, Betsy Schaefer.
Como a pesquisa foi feita?
Participaram da pesquisa 61 pessoas com idades entre 18 e 35 anos — algumas sem e outras com dependência à maconha (o chamado “transtorno por uso de cannabis”). Alguns indivíduos em cada um dos grupos já tinham sofrido seu primeiro episódio de esquizofrenia diagnosticado.
Os participantes foram submetidos a uma técnica de imagem cerebral não invasiva, chamada ressonância magnética sensível à neuromelanina. Com isso, os pesquisadores conseguiram observar um pigmento preto chamado neuromelanina, que se acumula ao longo do tempo se houver excesso de dopamina.
“Em pessoas que fazem uso excessivo de cannabis, essas manchas são mais escuras do que deveriam ser para a idade, em comparação com indivíduos saudáveis”, explica Palaniyappan. “Isso indica que elas têm altos níveis de dopamina e, em alguns casos, apresentam pigmentos que alguém 10 anos mais velho teria.”
Em uma região específica do cérebro associada à psicose, os cientistas observaram um aumento desses pontos negros em pessoas dependentes à maconha — independentemente de terem ou não o primeiro episódio de esquizofrenia.
Para a psiquiatra Julie Richard, a pesquisa oferece pistas para explicar porque a exposição à cannabis causa alterações cerebrais ligadas à psicose. Ela conta que os especialistas estão tentando alertar os jovens já logo em seu primeiro episódio psicótico.
“Nos últimos anos, desde a legalização [no Canadá], temos visto adolescentes que têm dois ou três episódios breves de psicose induzidos pela cannabis e, em seguida, têm um episódio muito mais grave”, diz Richard.
Já Shaefer, relata que a nova pesquisa consegue interligar o uso de cannabis e seus riscos à saúde mental. Para ela, os resultados, junto ao uso mais amplo da droga desde sua legalização, reforçam a necessidade de conscientização. “Esperamos que este estudo incentive novas pesquisas e embase políticas de saúde pública para apoiar o uso seguro e informado da cannabis”, afirma.
Respostas