Avaliação dos Fatores Relacionados à Ocorrência da Incontinência Urinária Feminina

Unitermos: Incontinência urinária, Fatores de risco, Epidemiologia, Parto normal, Cesárea. 

 

RESUMO 

OBJETIVO: Avaliar os fatores de risco relacionados à ocorrência da incontinência urinária (IU) feminina. 

MÉTODOS: Estudo caso-controle que incluiu 253 mulheres (102 incontinentes e 151 continentes). As participantes responderam a um questionário epidemiológico sobre possíveis fatores de risco, incluindo: idade, estado hormonal, raça, Índice de Massa Corporal (IMC), paridade, tipos de partos (normais, fórcipes ou cesarianas), peso do maior recém-nascido, utilização de episiotomia e/ou analgesia durante o parto, história de histerectomia, prática de atividade física, tabagismo, diabetes mellitus, constipação intestinal, história de asma brônquica e/ou doença pulmonar obstrutiva crônica, uso de diuréticos e/ou antidepressivos. 

RESULTADOS: Após a aplicação do modelo de regressão logística binária, foram encontrados como fatores de risco para a ocorrência de incontinência urinária: 

  • Idade [OR = 1,07 (IC 1,03 – 1,1)] 
  • Parto normal [OR = 1,5 (IC 1,1 – 12,0)] 
  • Parto fórcipe [OR = 35,0 (IC 3,7 – 327)] 
  • Peso do maior recém-nascido [OR = 1,001 (IC 1 – 1,002)] 

Além disso, identificamos como fator de proteção a cesariana [OR = 0,39 (IC 0,23 – 0,65)]. 

CONCLUSÃO: Os fatores de risco independentes para a ocorrência da incontinência urinária foram idade, parto normal, parto fórcipe e peso do maior recém-nascido e, como fator de proteção, a cesariana. 

 

Introdução 

A Sociedade Internacional de Continência (ICS), em sua publicação mais recente, define a incontinência urinária (IU) como toda perda involuntária de urina. Esta definição difere da original, que considerava IU somente as perdas que causassem desconforto social ou higiênico. 

A nova definição da ICS preconiza que a IU deve ser descrita em conjunto com fatores específicos, como tipo, frequência, gravidade, fatores precipitantes, impacto social e qualidade de vida. A IU constitui achado relativamente comum, com prevalência que varia de 5% em mulheres jovens a cerca de 50% nas idosas. 

  • A incontinência urinária de esforço é a forma mais comum de queixa urinária entre as mulheres, seguida pela urge-incontinência. 
  • No Brasil, a prevalência de IU em mulheres idosas (maiores de 60 anos) em São Paulo foi de 26,2%. 

Fatores de risco citados na literatura incluem: idade avançada, raça branca, obesidade, partos vaginais (devido a danos à musculatura e inervação locais), partos traumáticos com uso de fórceps e/ou episiotomias, multiparidade e gravidez em idade avançada, deficiência estrogênica, condições associadas a aumento da pressão intra-abdominal, tabagismo, diabetes, neuropatias e histerectomia prévia. 

No entanto, os estudos publicados para investigar possíveis associações com esses fatores são poucos e seus achados são conflitantes. Ante ao exposto, interessou-nos nesse estudo avaliar os fatores relacionados à ocorrência da IU feminina. 

Métodos 

Realizamos estudo caso-controle com 253 mulheres que realizam acompanhamento no Hospital da Mulher Maria José dos Santos Stein, em Santo André, SP (Brasil), instituição vinculada à Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), nos meses de outubro a fevereiro de 2010. 

O trabalho seguiu as normas éticas e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FMABC. 

As pacientes foram divididas em dois grupos: 

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  1. Grupo caso (com IU): Composto por 102 mulheres, definidas como aquelas com perda de urina aos esforços, bexiga hiperativa (urgência com ou sem urge-incontinência) ou IU mista. 
  1. Grupo Controle (sem IU): Constituído por 151 voluntárias que negavam qualquer perda involuntária de urina. 

A média de idade do grupo com IU foi de 54,1 \pm 11,4 anos e do grupo controle de 38,7 \pm 14,2 anos. 

O questionário específico para análise de fatores de risco foi aplicado via telefonema, abordando os seguintes fatores: idade, estado hormonal, raça, IMC, paridade, tipos de partos, peso do maior recém-nascido, utilização de episiotomia e/ou analgesia, história de histerectomia, prática de atividade física, tabagismo, diabetes mellitus, constipação intestinal, história de asma brônquica e/ou DPOC, uso de diuréticos e/ou antidepressivos. 

Para cada fator de risco, foi calculado o odds ratio (OR) bruto e, para aqueles com significância estatística, o OR ajustado por meio do modelo de regressão logística binária, com intervalo de confiança de 95% (p < 0,05$). 

Resultados 

O questionário foi respondido por todas as 253 mulheres. 

(Nota: A Tabela 1 no artigo original aponta as características de ambos os grupos.) 

A análise da Tabela 2 no artigo original permite-nos considerar como fatores de risco independentes para a IU: 

  • a idade [OR = 1,07 (IC 1,03 – 1,1); p = 0,001]; 
  • o parto normal [OR = 1,5 (IC 1,1 – 2); p = 0,003]; 
  • o parto fórcipe [OR = 35 (3,7 – 327; p = 0,02]; 
  • o peso do maior RN [OR = 1,001 (IC 1 – 1,002); p = 0,018]. 

Por outro lado, a cesariana foi o único fator que pode ser considerado como de proteção para a IU [OR = 0,39 (IC 0,23 – 0,65); p < 0,0001]. 

Discussão 

Realizamos estudo transversal do tipo caso-controle que incluiu 253 mulheres entrevistadas por meio de telefonema. Demonstramos que idade, parto normal, parto fórcipe e peso do recém-nascido elevado guardam relação direta com a ocorrência da IU. Adicionalmente, a cesariana se mostrou protetora. Todos os demais parâmetros avaliados (estado hormonal, raça, IMC, paridade, tabagismo, diabetes etc.) não tiveram associação com o desenvolvimento da incontinência. 

A literatura descreve que os eventos obstétricos são os principais fatores de risco para a IU, sendo o trauma perineal do parto o grande responsável. Uma revisão recente apontou que vários trabalhos demonstraram que o parto vaginal é o que ocasiona os maiores danos ao assoalho pélvico e aos mecanismos de continência urinária. 

O editorial da Revista de Ginecologia e Obstetrícia (RBGO) chama a atenção para o fato de que o parto vaginal tem OR 2 (IC a 95% de 1,5 a 3,1) para a IU moderada a grave em relação à cesariana, com o risco caindo de 10% para 5% se a mulher tiver todos os filhos por cesariana eletiva. No entanto, um ensaio clínico randomizado recente entre a cesariana eletiva e o parto vaginal não conseguiu demonstrar diferenças na prevalência de IU depois de dois anos do parto. 

Outros estudos corroboram a associação entre IU e: 

  • Peso do recém-nascido (acima de 4000 g). 
  • Paridade, IMC e idade (aumenta na idade adulta, pico na meia-idade e aumento constante na velhice). 
  • Raça branca (sugerida como tendo maior susceptibilidade do que as negras). 
  • Histerectomia prévia. 

Acreditamos que esse é um dos primeiros estudos na população brasileira com o objetivo de estabelecer os fatores de risco relacionados com a IU. Por meio dele, concluímos que o perfil epidemiológico da doença em nossa população é semelhante ao de outras partes do mundo. 

LINK DO ARTIGO: https://www.scielo.br/j/ramb/a/kkff6R3MFcffZCJPv4fMzyN/?lang=pt  

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