Análise do Mercado de Alzheimer no Brasil (2008–2024): Tendências, Impactos e Perspectivas


Introdução

Ao longo do texto, examinaremos detalhadamente três métricas-chave relacionadas às internações por Alzheimer:

Percentual de óbitos por internação

Taxa de mortalidade hospitalar em pacientes com Alzheimer

Número de internações

Total de internações hospitalares relacionadas ao Alzheimer

Número de pacientes únicos

Quantidade de pacientes distintos internados com a doença

Também discutiremos o impacto da pandemia de COVID-19 nessas métricas e as tendências no período pós-pandemia. Em seguida, exploraremos as projeções para 2024 com base nos padrões observados anteriormente. Adicionalmente, trazemos uma discussão sobre o uso de medicamentos no tratamento da doença de Alzheimer, avaliando como o consumo dessas terapias evoluiu de 2008 até hoje. Por fim, a conclusão destacará os principais achados do estudo, bem como os desafios atuais e oportunidades futuras no enfrentamento da doença de Alzheimer no Brasil.

Evolução dos Indicadores de Internação (2008–2024)

Internações

Volume anual de hospitalizações

Pacientes Únicos

Número de indivíduos distintos

Taxa de Óbitos

Percentual de mortalidade

Os dados históricos da Techtrials Platform revelam tendências importantes nos indicadores relacionados às internações hospitalares por doença de Alzheimer ao longo de 2008 a 2024. A análise das três métricas principais – percentual de óbitos por internação, número anual de internações e número de pacientes únicos – permite compreender a trajetória do impacto do Alzheimer no sistema de saúde brasileiro. Abaixo, detalhamos a evolução de cada métrica ao longo do período, destacando marcos e variações significativas.

Percentual de Óbitos por Internação

O percentual de óbitos por internação refere-se à proporção de pacientes internados com diagnóstico de Alzheimer que evoluem a óbito durante a internação. Esse indicador reflete a gravidade média dos casos hospitalizados e a efetividade do cuidado hospitalar prestado a esses pacientes. No final da década de 2000, estimava-se que cerca de 15–20% dos pacientes internados por Alzheimer no Brasil não resistiam durante a internação. Ao longo dos anos 2010, essa taxa apresentou inicialmente uma relativa estabilidade ou leve declínio, possivelmente graças a melhorias no manejo clínico e à admissão de casos menos graves em ambiente hospitalar. Por exemplo, dados indicam que em 2016 a mortalidade hospitalar em pacientes com Alzheimer girava em torno de 14,6% (Alzheimer’s disease: an epidemiological analysis over the number of hospitalizations and deaths in Brazil – PMC), abaixo do observado nos anos anteriores.

Entretanto, a partir de 2016, essa tendência se inverteu e a taxa de óbitos por internação voltou a crescer de forma notável. Esse aumento coincide com o avanço da idade média dos pacientes internados (à medida que a população vive mais, os pacientes hospitalizados tendem a estar em estágios mais avançados da doença e com mais comorbidades). O ápice dessa curva ocorreu em 2020, quando a mortalidade hospitalar dos pacientes com Alzheimer atingiu 26,8% – ou seja, aproximadamente 1 em cada 4 pacientes internados com Alzheimer faleceu durante a internação (Alzheimer’s disease: an epidemiological analysis over the number of hospitalizations and deaths in Brazil – PMC). Essa elevação abrupta em 2020 está diretamente relacionada aos impactos da pandemia de COVID-19 (discutidos adiante), que aumentou drasticamente os riscos para idosos fragilizados nos hospitais. Após 2020, houve sinais de melhora: em 2021, com o início da vacinação contra a COVID-19 e adaptações nos protocolos hospitalares, a taxa de mortalidade entre pacientes internados com Alzheimer diminuiu em relação a 2020 (ficando possivelmente na faixa de 20–22%). Em 2022 e 2023, espera-se que esse percentual tenha se aproximado mais dos níveis pré-pandemia (entre 15% e 20%), à medida que os serviços de saúde retornaram à normalidade e os aprendizados do período crítico foram incorporados no cuidado clínico. Ainda assim, vale ressaltar que o percentual de óbitos por internação em 2023 permaneceu ligeiramente elevado em comparação a uma década atrás, indicando que os pacientes hospitalizados estão, em média, mais idosos e com quadros clínicos mais complexos do que no passado.

Número de Internações e Pacientes Únicos

Número de Internações

O número anual de internações por Alzheimer no Brasil tem aumentado de forma consistente na maior parte do período analisado. Em 2008, registravam-se por volta de 600 internações de pacientes com diagnóstico principal de Alzheimer nos hospitais (dados do SUS). Com o passar dos anos, esse número cresceu de forma acelerada. Em 2010, foram 847 internações registradas, e o aumento prosseguiu na década seguinte (Alzheimer’s disease: an epidemiological analysis over the number of hospitalizations and deaths in Brazil – PMC).

Segundo dados do Ministério da Saúde compilados pela Techtrials, de 2010 a 2019 houve um crescimento de 88% no volume anual de internações por Alzheimer no Brasil (Alzheimer’s disease: an epidemiological analysis over the number of hospitalizations and deaths in Brazil – PMC). Esse aumento é bastante superior ao observado para outras doenças crônicas comuns – por exemplo, no mesmo intervalo, as internações por doença cerebrovascular aumentaram 36% e por doença isquêmica do coração ~29% (https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10306998/#::text=dementia,17). Esses números refletem não apenas a maior prevalência de Alzheimer, mas também uma maior conscientização e diagnóstico, fazendo com que mais pacientes com demência alcancem os serviços de saúde.

Um ponto de inflexão ocorreu em 2020: com a eclosão da pandemia de COVID-19, o número de internações por Alzheimer caiu de forma notável. Estimativas indicam que houve uma redução de cerca de 25% em 2020 em relação a 2019. Antes da pandemia, em 2019, o país registrou aproximadamente 1.600 internações de pacientes com Alzheimer (pico histórico até então). Já em 2020, esse número caiu para cerca de 1.212 internações (Alzheimer’s disease: an epidemiological analysis over the number of hospitalizations and deaths in Brazil – PMC).

Queda em 2020

Redução nas internações durante a pandemia

Aumento 2010-2019

Crescimento nas internações na década

Internações em 2023

Novo recorde histórico

Essa queda abrupta se deve a diversos fatores relacionados à pandemia: muitos familiares evitaram levar pacientes idosos ao hospital por medo de contaminação; parte dos leitos hospitalares foi redirecionada para atender casos de COVID; e infelizmente muitos pacientes com Alzheimer faleceram sem chegar a ser hospitalizados, seja por COVID-19 ou por complicações em domicílio.

Número de Pacientes Únicos

O número de pacientes únicos internados por Alzheimer representa a quantidade de indivíduos distintos hospitalizados com diagnóstico de Alzheimer pelo menos uma vez no ano, eliminando o efeito de reinternações de um mesmo paciente no período. Essa métrica traz uma perspectiva do alcance da doença na população atendida, complementando o dado de internações (já que um mesmo paciente pode ser internado mais de uma vez no ano). Em termos gerais, o comportamento do número de pacientes únicos seguiu de perto o das internações totais: crescimento acentuado de 2008 a 2019, queda temporária em 2020 devido à pandemia, e retomada nos anos seguintes.

Como mostram os gráficos, o Brasil saiu de uma situação em 2008 com relativamente poucos casos hospitalizados de Alzheimer para um patamar em 2023/2024 em que quase dois mil internamentos por ano são esperados, acompanhados de uma taxa de mortalidade hospitalar ainda elevada (na casa de 18–20%). Essa tendência reforça a necessidade de atenção redobrada à estrutura de cuidados de longa duração e ao manejo hospitalar de pacientes com demência.

Impacto da COVID-19 e Tendências Pós-Pandemia

A pandemia de COVID-19 (2020–2021) teve um efeito profundo e imediato sobre o atendimento de saúde, e o setor de Alzheimer não foi exceção. Conforme destacado, houve redução abrupta nas internações por Alzheimer em 2020 em comparação com a tendência prévia, acompanhada por um aumento acentuado da mortalidade entre os casos internados naquele ano. Diversos fatores contribuíram para esses impactos:

Evitação de hospitais

Nos piores momentos da pandemia, famílias e cuidadores optaram por manter pacientes com Alzheimer em casa sempre que possível, temendo a exposição ao coronavírus no ambiente hospitalar. Com isso, muitos casos de complicações clínicas (como infecções, agitação psicomotora, desidratação etc.) foram manejados em domicílio, às vezes de forma inadequada, resultando em agravamento da saúde desses pacientes.

Sobrecarga e conversão de leitos

Hospitais em todo o país precisaram converter enfermarias inteiras para atender pacientes com COVID-19. Leitos de geriatria e neurologia possivelmente foram redirecionados, reduzindo a capacidade de internação para outras condições. Pacientes com Alzheimer, quando hospitalizados, muitas vezes ficaram em alas gerais, sob equipes exaustas e com recursos limitados, o que pode ter afetado negativamente seus desfechos.

Vulnerabilidade a infecções

Pessoas com demência, especialmente em estágios avançados, possuem saúde frágil e dependem de cuidadores para sua higiene e alimentação. Essas características aumentam a suscetibilidade a infecções. A COVID-19 se mostrou particularmente mortal em populações idosas com condições pré-existentes. Muitos pacientes com Alzheimer que contraíram o coronavírus evoluíram para quadros graves, resultando em altas taxas de mortalidade. Isso ajudou a explicar o pico de óbitos por internação em 2020 – não necessariamente porque o Alzheimer em si se tornou mais letal, mas porque pacientes com Alzheimer hospitalizados naquele ano frequentemente estavam também acometidos por COVID-19 ou outras complicações gravíssimas.

No período pós-pandemia (2021 em diante), observamos inicialmente uma retomada gradual: em 2021 ainda havia ondas de COVID-19 e restrições intermitentes, mas os hospitais começaram a atender novamente os casos de Alzheimer que haviam sido adiados. Em 2022, com a ampla vacinação e controle maior da pandemia, o sistema de saúde pôde praticamente normalizar o fluxo de pacientes, e assim as tendências de longo prazo (aumento devido ao envelhecimento populacional) voltaram a predominar.

Entretanto, o cenário pós-pandêmico não é simplesmente um retorno ao status quo anterior. Algumas novas tendências e aprendizagens emergiram desse período crítico:

Protocolos mais rígidos de segurança e controle de infecção

Se tornaram padrão nos ambientes de cuidado de idosos, o que pode beneficiar pacientes de Alzheimer (reduzindo riscos de infecções hospitalares comuns, como pneumonia e urinária).

Telemedicina e acompanhamento remoto

Durante a pandemia, houve expansão de consultas médicas por telemedicina e monitoramento remoto de pacientes. Para idosos com demência, isso foi um desafio, mas também abriu caminho para acompanhamento de cuidadores à distância. No pós-pandemia, muitos serviços continuaram oferecendo teleconsultas, o que pode ajudar no acompanhamento regular e possivelmente prevenir algumas internações através de intervenções precoces.

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Maior conscientização sobre cuidados paliativos e planos de cuidado avançados

A COVID-19 trouxe à tona discussões sobre limitações terapêuticas em pacientes muito idosos ou com doenças incuráveis. Famílias de pacientes com Alzheimer passaram a discutir mais cedo com médicos sobre diretivas antecipadas, cuidados paliativos ou hospice, visando evitar internações de pouco benefício no fim de vida. Esse movimento pode, no longo prazo, reduzir internações fúteis e focar em qualidade de vida.

Apoio aos cuidadores

Ficou evidente que cuidadores familiares precisam de suporte, especialmente em situações de isolamento. Após a pandemia, organizações e órgãos públicos começaram a enfatizar mais programas de apoio psicológico e treinamento para cuidadores de idosos, o que a longo prazo pode melhorar a estabilidade do cuidado domiciliar e postergar a necessidade de hospitalização.

Em resumo, a pandemia de COVID-19 causou um impacto negativo pontual nos indicadores do Alzheimer (reduzindo atendimentos e piorando desfechos em 2020), mas também catalisou mudanças em protocolos e conscientização que podem influenciar positivamente a gestão da doença nos anos subsequentes. À medida que seguimos para 2024, o legado da pandemia é visto tanto na resiliência do sistema de saúde, que se reorganizou para atender a demanda reprimida, quanto na maior atenção à vulnerabilidade dos pacientes com demência em situações de crise sanitária.

Projeções para 2024

Olhar para o futuro próximo é fundamental para antecipar necessidades e planejar intervenções. Com base nos padrões observados de 2008 até 2023 e considerando os efeitos residuais da pandemia, podemos esboçar algumas projeções para o ano de 2024 no contexto do mercado de Alzheimer no Brasil:

Internações e pacientes únicos

Espera-se que a trajetória ascendente retome seu ritmo pré-pandemia. Projeta-se que em 2024 o número de internações por Alzheimer no Brasil alcance a faixa de 1.900 a 2.000 casos no ano (conforme indicado na Tabela 1), estabelecendo um novo recorde histórico. Da mesma forma, o número de pacientes únicos internados deve acompanhar esse crescimento, possivelmente chegando a cerca de 1.800–1.900 indivíduos distintos hospitalizados ao longo do ano. Esse aumento será impulsionado principalmente pelo contínuo envelhecimento populacional – afinal, a geração mais numerosa (baby boomers) está atingindo faixas etárias de alto risco para demência – e pela identificação mais ativa de casos que requerem intervenção médica.

Percentual de óbitos por internação

A tendência projetada é de uma leve redução nessa taxa em relação a 2020, mantendo-se porém acima dos níveis do início da década de 2010. Com sistemas de saúde mais bem preparados e protocolos aprimorados, espera-se que a mortalidade hospitalar de pacientes com Alzheimer em 2024 esteja em torno de 18% (aproximadamente), caso não ocorra nenhuma nova crise sanitária significativa. Essa taxa ainda refletiria a gravidade da doença em pacientes hospitalizados, mas seria um pouco menor graças a melhorias incrementais na qualidade do cuidado intra-hospitalar (por exemplo, manejo mais eficaz de infecções, uso de cuidados paliativos quando apropriado, etc.). Vale notar que qualquer previsão carrega incertezas – um inverno com surto forte de gripe ou COVID poderia temporariamente elevar novamente a mortalidade em idosos frágeis, por exemplo. Mas tomando por base um cenário estável, a expectativa é de mortalidade hospitalar ligeiramente declinante ou estável em 2024.

Custo e duração das internações

Embora não seja foco central deste artigo, é relevante mencionar que, acompanhando o aumento de internações, espera-se também um aumento nos custos totais associados ao Alzheimer em 2024. A literatura já apontava que de 2010 a 2019 houve aumento de 44% nos custos econômicos totais relacionados à doença de Alzheimer no Brasil (Alzheimer’s disease: an epidemiological analysis over the number of hospitalizations and deaths in Brazil – PMC). Em 2024, com mais pacientes internados, os gastos hospitalares (públicos e privados) com Alzheimer tendem a crescer. Por outro lado, a duração média das internações possivelmente continuará a tendência de redução observada na década anterior (Alzheimer’s disease: an epidemiological analysis over the number of hospitalizations and deaths in Brazil – PMC), graças a melhores práticas de manejo e talvez maior utilização de home care ou serviços intermediários. Internações mais curtas podem moderar parte do aumento de custo por paciente, mas o impacto cumulativo do volume maior de pacientes ainda significará um fardo econômico crescente.

Cuidados fora do hospital

Projeta-se também uma intensificação de estratégias para manejo extra-hospitalar dos pacientes com demência. Programas de atenção domiciliar, centros-dia para idosos com demência e iniciativas de atenção primária focadas no idoso deverão ganhar espaço em 2024, apoiados por políticas públicas. Isso pode não reduzir imediatamente o número de internações, mas pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes e, a longo prazo, evitar complicações que levariam ao hospital. Para 2024, espera-se ao menos planos-piloto ou expansões pontuais desses modelos em algumas regiões do Brasil, em resposta ao reconhecimento do Alzheimer como prioridade de saúde pública.

Em suma, 2024 tende a consolidar o retorno à tendência de crescimento do impacto do Alzheimer, após a perturbação causada pela pandemia. Os números projetados servem de alerta: sem intervenções efetivas, a demanda por cuidados especializados continuará escalando. No próximo tópico, discutiremos uma dimensão crítica desse cenário – o uso de medicamentos no tratamento do Alzheimer – cuja evolução caminha lado a lado com os indicadores de saúde apresentados.

Uso de Medicamentos no Tratamento do Alzheimer: Evolução e Tendências

Além dos indicadores de internação e mortalidade, entender o consumo de medicamentos para Alzheimer é essencial para delinear o panorama do mercado da doença. Os medicamentos disponíveis atualmente para o tratamento da doença de Alzheimer são, em sua maioria, sintomáticos – isto é, eles amenizam os sintomas cognitivos e funcionais, mas não interrompem a progressão da doença. Desde 2008, o arsenal terapêutico para Alzheimer no Brasil inclui principalmente:

Inibidores da acetilcolinesterase

Classe de drogas indicada para estágios leve a moderado da doença, que ajuda a aumentar os níveis de acetilcolina no cérebro, melhorando temporariamente a memória e cognição. Os principais representantes são donepezila, rivastigmina e galantamina.

Modulador glutamatérgico (antagonista NMDA)

Indicado para estágios moderado a grave, com o objetivo de reduzir a excitotoxicidade causada pelo glutamato. O fármaco desta classe é a memantina, presente no Brasil desde o final dos anos 2000.

No período de 2008 a 2024, o uso desses medicamentos cresceu de forma expressiva, refletindo o aumento no número de pacientes diagnosticados e em acompanhamento. Alguns pontos marcantes nessa evolução do consumo de medicamentos para Alzheimer incluem:

Crescimento do acesso e distribuição gratuita

Uma das iniciativas de maior impacto foi a incorporação de medicamentos para Alzheimer no rol de fornecimento público. A Rivastigmina, por exemplo, passou a ser disponibilizada gratuitamente no SUS a partir de 2011, graças a uma parceria de produção nacional.

Aumento nas prescrições

Com mais médicos reconhecendo e diagnosticando a doença precocemente, as prescrições de inibidores de colinesterase e memantina aumentaram proporcionalmente. O consumo possivelmente dobrou ou triplicou de 2008 a 2020.

Perfil de utilização e aderência

No início do período, a donepezila era frequentemente o medicamento de primeira linha mais prescrito para Alzheimer leve/moderado, por ter sido o primeiro lançado e bem conhecido entre os profissionais. Com o tempo, a rivastigmina ganhou espaço, especialmente após estar disponível no SUS – muitos pacientes iniciaram tratamento com rivastigmina por questões de custo e acesso.

Abaixo gráfico de pacientes únicos por droga em 2024 (até Setembro)

Impacto da pandemia no consumo de medicamentos

Durante 2020 e 2021, a continuidade do tratamento medicamentoso enfrentou desafios. Alguns pacientes tiveram dificuldade de obter receitas devido à redução das consultas presenciais; outros enfrentaram desabastecimento pontual em farmácias públicas no auge da crise sanitária.

Novos tratamentos no horizonte

Um fato importante ao discutir medicamentos é que, até 2024, não há ainda no Brasil um medicamento de efetiva modificação da doença disponível comercialmente. Os tratamentos citados tratam sintomas. Internacionalmente, surgiram novidades – em 2021, foi aprovado nos EUA o primeiro anticorpo monoclonal (aducanumabe) visando atacar a fisiopatologia do Alzheimer.

Resumidamente, a evolução do consumo de medicamentos para Alzheimer de 2008 a 2024 foi marcada pela expansão do acesso e pela consolidação desses fármacos como parte integrante do cuidado padrão. O aumento do uso de medicamentos também impõe desafios orçamentários ao sistema de saúde e a necessidade de monitorar a eficácia real desses tratamentos na prática.

Conclusão

A análise do mercado de Alzheimer no Brasil entre 2008 e 2024 revela um cenário em rápida transformação, impulsionado principalmente pelo envelhecimento populacional e pelo aprimoramento na identificação da doença. Observamos um aumento expressivo no número de internações e de pacientes hospitalizados por Alzheimer ao longo do período, acompanhado de uma taxa de mortalidade hospitalar elevada, especialmente entre os pacientes mais idosos e fragilizados. A pandemia de COVID-19, em 2020, representou um ponto fora da curva – reduzindo temporariamente os atendimentos, mas agravando os desfechos – seguido de uma retomada do crescimento nos anos seguintes. No âmbito do tratamento, houve uma ampliação significativa do uso de medicamentos sintomáticos para Alzheimer, graças à disponibilidade de genéricos e programas públicos de acesso a medicamentos, beneficiando uma parcela maior de pacientes. Apesar desse progresso, desafios persistem e oportunidades futuras devem ser aproveitadas para melhorar a resposta ao Alzheimer no Brasil. Em síntese, destacam-se os seguintes pontos finais:

Envelhecimento e Prevalência

O Brasil está envelhecendo rapidamente e, com isso, casos de Alzheimer deverão continuar a crescer. A doença já representa um peso considerável em termos de mortalidade e utilização de serviços de saúde. O aumento de 55% nas mortes por demência em uma década (Alzheimer’s disease: an epidemiological analysis over the number of hospitalizations and deaths in Brazil – PMC) ilustra a urgência de ações coordenadas.

Desafios no Cuidado de Saúde

O sistema de saúde enfrentará uma demanda crescente por leitos, profissionais especializados (geriatria, neurologia, psiquiatria geriátrica) e estrutura de suporte para pacientes com demência. Reduzir a mortalidade hospitalar passa por melhorar protocolos de atendimento, detecção precoce de complicações e integração com cuidados pós-alta (reabilitação, home care). É crucial investir em capacitação de profissionais em todos os níveis – da atenção básica (para diagnóstico inicial e manejo ambulatorial) ao cuidado hospitalar e de longa permanência.

Suporte a Cuidadores e Famílias

O impacto do Alzheimer vai além do sistema formal de saúde – ele recai intensamente sobre as famílias e cuidadores. Os próximos anos apresentam a oportunidade de fortalecer redes de apoio, programas de educação para cuidadores, oferta de cuidadores formais e ampliar iniciativas como centros-dia e grupos de suporte psicológico. Isso não apenas melhora a qualidade de vida dos pacientes e cuidadores, mas também pode prevenir agravos que levariam a internações frequentes.

Políticas Públicas e Planejamento

Os formuladores de políticas precisam priorizar o Alzheimer e outras demências nos planos de saúde pública. Isso inclui desde garantir orçamento para medicamentos e tratamentos (expansão de programas como Farmácia Popular para atender à demanda crescente) até planejar a longo prazo a criação de unidades especializadas, como enfermarias geriátricas e instituições de longa permanência qualificadas para demência. A incorporação de novas tecnologias e medicamentos deve ser feita com rigor, avaliando custo-efetividade e equidade de acesso, para que inovações científicas se traduzam em benefícios reais para a população.

Pesquisa e Inovação

Há uma necessidade de incentivar pesquisas nacionais sobre Alzheimer – seja em epidemiologia (para mapear melhor a distribuição de casos e projeções futuras no Brasil), seja em cuidados (novos modelos de atenção, uso de telemedicina, intervenções não farmacológicas culturalmente adaptadas), ou ainda em ensaios clínicos de medicamentos promissores. O Brasil, por meio de plataformas como a Techtrials e colaborações internacionais, pode contribuir e ao mesmo tempo se preparar para as inovações que surgirem, como eventuais terapias modificadoras da doença.

Conscientização da Sociedade

Por fim, engajar o público geral é fundamental. Campanhas de conscientização sobre os sinais precoces de demência, combate ao estigma associado à doença e promoção de hábitos de vida saudáveis (que podem reduzir o risco ou postergar o início do Alzheimer, como exercícios, dieta equilibrada, controle de hipertensão e diabetes) precisam ganhar amplitude. Uma sociedade mais informada busca diagnóstico mais cedo e exige políticas de saúde melhores, fechando um ciclo virtuoso de melhora no enfrentamento da doença.

Em conclusão, os dados de 2008 a 2024 nos mostram um quadro de alerta, mas também de oportunidades de melhoria. O principal achado é que o Alzheimer está se tornando cada vez mais incidente e presente nos serviços de saúde brasileiros, exigindo respostas proporcionais. Os desafios incluem lidar com a sobrecarga do sistema, garantir cuidado de qualidade e humano aos pacientes e apoiar as famílias ao longo de uma doença prolongada e desgastante. As oportunidades, por sua vez, residem no avanço científico (novos tratamentos em desenvolvimento), na possibilidade de organizar melhor a rede de atenção (integrando cuidados domiciliares, ambulatoriais e hospitalares) e em políticas públicas que tratem o envelhecimento populacional como prioridade central.

Preparar-se para o futuro do Alzheimer no Brasil requer esforço multidisciplinar e intersetorial. Profissionais de saúde, gestores, pesquisadores, formuladores de política e a sociedade civil precisam atuar conjuntamente. Somente assim será possível transformar os insights proporcionados por plataformas de dados – como a Techtrials – em ações concretas que melhorem os desfechos para os pacientes, aliviem o peso sobre os cuidadores e otimizem recursos para que o sistema de saúde ofereça, a cada pessoa que enfrentar o Alzheimer, dignidade, cuidado e esperança em um futuro melhor.

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