Anemia falciforme: a doença monogênica mais frequente no Brasil
Trata-se de uma condição autossômica recessiva em que uma mutação no gene HBB, que codifica a beta-globina.
Com a alteração no gene, o aminoácido glutamina é substituído pela valina. O resultado é a formação da hemoglobina S, que quando não está ligada ao oxigênio se polimeriza, formando cadeias longas que deformam as hemácias.
As hemácias deformadas assumem um formato de foice (daí o nome “falciforme”), o que reduz a complacência delas, de forma a impactarem nos capilares, causando vasoclusão e hemólise.
O tratamento é difícil e grande parte dos pacientes evolui com lesão de órgão alvo e com baixa expectativa de vida.
Fato interessante: quanto maior a quantidade de hemoglobina fetal, menores os sintomas e complicações de anemia falciforme. Isso porque a Hb fetal inibe a polimerização da HbS!
Por isso os pesquisadores desenvolveram um tratamento com edição gênica que visa a aumentar a quantidade de Hb fetal em pacientes com anemia falciforme.
- O método é complexo. Consiste em fornecer aos pacientes o OTQ923 → um produto de células hematopoiéticas editadas por CRISPR-Cas9 que tem como alvo os genes HBG1 e HBG2, que aumentam a expressão e hemoglobina fetal nas células genitoras.
O método foi testado em 3 pacientes e os resultados foram surpreendentes:
- aumento de 19% para 26,8% no percentual de hemoglobina fetal
- aumento de 69,7% para 87,8% no percentual de células F
- e o mais importante: melhora dos sintomas
Análise crítica: é um estudo clínico de fase 1/2 com pouquíssimos pacientes e sem grupo controle. Para melhor avaliarmos a eficácia, deve-se fazer um estudo randomizado controlado com placebo.
Mas não deixa de ser promissor. Seguimos aguardando as próximas pesquisas.
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